segunda-feira, 30 de maio de 2011

fichamento 8,9,10

Influência das concavidades radiculares nas perdas clínicas de inserção, detectadas no exame clínico periodontal inicial.
Francisco Emilio PUSTIGLIONI*
Giuseppe Alexandre ROMITO**



PUSTIGLIONI, F. E.; ROMITO, G. A. Influência das concavidades radiculares nas perdas clínicas de inserção, detectadas no exame clínico periodontal inicial. Rev Odontol Univ São Paulo, v.13, n.4, p.375-381, out./dez.

As concavidades radiculares podem constituir-se em nichos de retenção de placa bacteriana29 e o tratamento da superfície radicular10, assim como a higiene bucal30, podem ser dificultados pela presença destas conformações.
A partir do trabalho de BOWER5 (1979), as informações, a respeito da anatomia radicular, principalmente, das concavidades, passam a ter um direcionamento clínico. No entanto, seria necessário relacionar sua presença com as destruições ocorridas nas estruturas periodontais circunvizinhas para poder aquilatar sua importância.
A placa bacteriana, responsável pelo início da doença periodontal é retida facilmente em determinados locais do dente, tais como: a união amelodentinária7, o sulco palato radicular8 e concavidades radiculares. Estes acidentes anatômicos podem estar relacionados com o início e evolução da doença periodontal29.
A grande maioria dos autores que estudaram as concavidades radiculares se preocuparam em verificar sua presença, localização e características morfológicas. Afirmam que a presença de concavidades em uma raiz, funcionaria como nicho de retenção. Deixam transparecer a impressão de que este fato facilitaria a progressão da doença periodontal. No entanto, são apenas impressões, ou opiniões pessoais, que não estão suportadas por pesquisas científicas bem conduzidas. Se esta hipótese fosse verdadeira, e as concavidades realmente se comportassem como um fator etiológico importante, quando a destruição dos tecidos periodontais provocasse PCI, de cerca de 4 mm, em uma face dentária que apresentasse concavidade, na grande maioria das vezes esta seria atingida e haveria condições para que a progressão da doença periodontal se tornasse mais rápida, ou mais intensa. Isto resultaria em maiores perdas de inserção nas faces portadoras de concavidades, quando comparadas a sítios livres destes detalhes anatômicos. Quanto maior fosse a concavidade, maior seria a destruição.
Os nossos resultados não confirmaram esta linha de raciocínio. Não pudemos encontrar maiores PCI em áreas que estatisticamente apresentavam concavidades maiores.
Encontramos na literatura consultada um único trabalho científico18 que procurou, como objetivo principal, correlacionar as PCI com a largura e profundidade das concavidades radiculares. Este trabalho foi realizado com metodologia simples e bem definida e não podemos contestar seus resultados. No entanto, nossos resultados foram bastante claros e, frente à amostragem utilizada, também não deixam dúvidas quanto à sua validade.
As diferenças encontradas poderiam ser atribuídas ao fato de LEKNESS et al.18 (1994) terem empregado dentes condenados e que poderiam, frente à pequena quantidade de suporte remanescente, estar sendo submetidos a grandes cargas funcionais. A sua metodologia não permite saber o número de dentes remanescentes na cavidade bucal dos pacientes doadores dos dentes estudados. Na nossa amostra, os pacientes tinham, em média, 22 dentes, o que nos leva a supor que poderiam apresentar melhor distribuição dos esforços oclusais funcionais.
Este trabalho avalia a PCI em toda a boca dos pacientes, e chega aos sítios com PCI  4 mm, o que propicia uma análise mais abrangente do quadro. Ainda, FOX; BOSWORTH9 (1987) admitem que estudos realizados com dentes extraídos, por razões periodontais, podem fornecer resultados tendenciosos.
Nas áreas proximais a remoção de placa e cálculo é reconhecidamente mais difícil4,9,12. BECKER et al.3 (1979), acreditam que, como a placa bacteriana se acumula mais nas faces proximais, não foi surpreendente que os maiores aumentos de profundidade de bolsa ocorressem nestas faces.
CAFFESSE et al.7 (1986), demonstraram que o grupo de pacientes que em seu trabalho foi submetido a técnicas cirúrgicas a retalho, mostrou cálculo residual quase sempre associado a algum tipo de concavidade da superfície.
Embora tenhamos encontrado as maiores perdas de inserção nas faces proximais, nossos resultados mostraram que, a maior PCI em um determinado sítio não pode ser diretamente relacionada à presença, profundidade e/ou largura de concavidades. Não podemos esquecer que a doença periodontal é multifatorial.
Como nossos resultados foram baseados em médias estatísticas, não se deve perder de vista a possibilidade de que em determinadas condições, e em determinados indivíduos, estes detalhes anatômicos possam desenvolver um papel importante. Assim, no exame, diagnóstico, prognóstico, complementação cirúrgica e na fase de controle e manutenção do tratamento periodontal, a presença deste detalhe anatômico não deve ser desprezada. As concavidades podem ser extremamente importantes quando analisamos sua influência nos resultados obtidos com controle de placa bacteriana, bem como com os procedimentos restauradores dentários.


Clareamento gengival: ensino e etnocentrismo

Gingival bleaching: teaching and ethnocentrism


Edson Daruich BollaI; Paulete GoldenbergII
Departamento de Psicologia da Educação, Faculdade de Educação, UNICAMP. Av. Bertrand Russel 801, Cidade Universitária "Zeferino Vaz". 13083-865 Campinas SP. IIPrograma de Pós-graduação em Ensino em Ciências da Saúde, Centro de Desenvolvimento do Ensino Superior em Saúde, Universidade Federal de São Paulo
Ciência & Saúde Coletiva
version ISSN 1413-8123
Ciênc. saúde coletiva vol.15 supl.1 Rio de Janeiro June 2010
doi: 10.1590/S1413-81232010000700090
ARTIGO ARTICLE

Segundo Thomaz1, o etnocentrismo "[...] consiste em julgar como certo ou errado, feio ou bonito, normal ou anormal os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos a partir dos próprios padrões culturais [...]". Ainda que caminhem juntos, etnocentrismo e racismo não é a mesma coisa. Lévi-Strauss, citado por Machado2, afirma que não se pode confundir o racismo - considerado como uma [...] doutrina falsa que pretende ver nas características intelectuais e morais atribuídas a um conjunto de indivíduos [...] o efeito necessário de um patrimônio genético comum - com a atitude de indivíduos ou grupos cuja fidelidade a certos valores os torna parcial ou totalmente insensíveis a outros valores. Entendendo que as posturas etnocêntricas podem evoluir para um racismo, particularmente diante do intenso processo de inclusão-exclusão sociais em nosso meio, consideramos a definição de Munanga3: "O racismo é uma crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural".
No Brasil, como refere Carneiro4, tem sido usual sustentar a imagem de uma nação cordial, caracterizada por apresentar um povo pacífico e sem preconceito de "raça", sendo que durante anos alimentamos a idéia de que vivemos uma democracia racial. Entretanto, tal democracia racial não existe, haja vista as desigualdades e limites de oportunidades oferecidas aos negros ao longo da história.
De acordo com Soligo5, em 1501, se inicia a história do negro no Brasil. A transição do trabalho indígena para o africano explica-se pelo tráfico negreiro que abriu caminho a um negócio rendoso, de alto valor comercial6.
Segundo Schwarcz, citado por Haag7, no final do século XIX, se afirmava que a mistura racial era prejudicial e que um país formado por muitos segmentos raciais estava fadado à decadência. Segundo a autora, Nina Rodrigues, assumindo o "darwinismo racial", preconizava a separação racial: a seleção natural daria cabo, no processo competitivo, dos segmentos inferiores que seriam postos sob controle ou eliminados. No período pós-abolicionista - expressando uma modalidade de racismo à brasileira, segundo Domingues8 - o branqueamento era apresentado como um processo irreversível no país. Pelas estimativas mais "confiáveis", o tempo necessário para a extinção do negro em terra brasileira oscilaria entre cinquenta e duzentos anos. Bernardino9 afirma que, ao lado do mito da democracia racial, arquitetou-se no Brasil o ideal do branqueamento como uma política nacional de promoção da imigração européia que visava suprir a escassez de mão de obra resultante da abolição e modernizar o país através da atração de mão de obra européia.
A ideologia do embranquecimento apresenta o branco como modelo de beleza e de sucesso. A hierarquização das pessoas em termos de sua proximidade a uma aparência branca ajudou a fazer com que indivíduos de pigmentação escura desprezassem a sua origem africana, cedendo assim à forte pressão do branqueamento, levando-os a fazer o melhor possível para parecerem mais brancos10.
Segundo Carneiro4, existe um preconceito velado em nossa sociedade, no qual dificilmente encontramos nas falas dos indivíduos a sua explicitação. Tal pensamento está nas formas de agir, nas opiniões e opções que os sujeitos fazem julgando os negros - como inferiores - pela cor de sua pele e não pela sua capacidade, índole e caráter. Para a autora, no Brasil, tem sido usual sustentar a imagem de um país cordial, caracterizado pela presença de um povo pacífico, sem preconceito de raça e religião.
Tal negação do racismo acaba por propiciar a hegemonia do branco e, nesse âmbito, se inscreve a formação do clareamento gengival, apresentado aos discentes de odontologia como uma técnica resultante dos avanços profissionais.
Os primeiros cursos de graduação em odontologia, no Brasil, foram criados em outubro de 1884, nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro. Em 1898, foi fundada a Escola (privada) Livre de Farmácia e Odontologia em São Paulo, sendo que em 1933 se concretiza a separação dos cursos de odontologia das escolas médicas6.
No processo de reorganização do ensino médico nos Estados Unidos e Canadá, o Relatório Flexner, publicado em 1910, refletiu no ensino superior, defendendo a inserção das escolas de medicina nas instituições universitárias. O relatório previa a criação de departamentos em lugar de cátedras e o desenvolvimento de ensino e pesquisa, destacando a formação em ciências. Tais disposições comportariam a criação do ciclo básico antecedendo ao ciclo profissionalizante, assim como a incorporação do hospital como campo de treinamento na formação de médicos. A reprodução de igual movimento no âmbito da odontologia, de acordo com Gies, citado por Oliveira6, constituiria a base para o desenvolvimento tecnológico ao lado do desenvolvimento das especialidades que consubstanciariam o caráter tecnicista da formação em odontologia em nosso meio.
No decorrer da trajetória desencadeada a partir da reforma universitária (que se instala em 1968), reafirma-se o desenvolvimento da pesquisa com a instalação da pós-graduação que suportaria propostas da formação especializada de recursos humanos.
Nas décadas seguintes, no contexto da intensificação da globalização, renovam-se as propostas relativas ao processo ensino/aprendizagem, sendo preconizadas reformas curriculares, assegurada a flexibilidade no tocante à sua organização. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional11 de 1996, destacando a necessidade de atender às demandas sociais, no artigo 43, propõe estimular a criação cultural e o desenvolvimento do espírito crítico e do pensamento reflexivo. Tal lei dispõe sobre a extinção dos currículos mínimos, desencadeando as proposições em torno de mudanças curriculares explicitadas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais (2001). Desde o final de 2001, os cursos de odontologia começaram a buscar soluções, cumprindo as exigências de elaboração de projetos político-pedagógicos, dando conta de mudanças curriculares envolvendo a profissionalização do trabalho docente.
Para Péret e Lima12, a formação do professor de odontologia tem sido baseada na racionalidade técnica, fundada na filosofia positivista. Assim, são considerados profissionais competentes aqueles que solucionam problemas instrumentais, mediante aplicação de teorias e práticas derivadas de conhecimento sistemático. O conhecimento emergente das particularidades dos contextos sociais e culturais dos cidadãos não tem sido enfocado nesse modelo, o que induz à necessidade de repensar a formação dos professores em uma dimensão humana e crítica. Isso se aplica à ausência de considerações de questões relativas às desigualdades sociais na formação odontológica ao lado da supervalorização da técnica. Neste sentido, coloca-se como exemplar a problemática da estética enquanto expressão de preferências no convívio com a diferença.
Discutindo a questão estética da população negra, Gould16, ao comentar sobre as idéias de alguns abolicionistas, dentre eles Benjamin Franklin, relata que, mesmo entre aqueles que consideravam a inferioridade dos negros como puramente cultural, a frequência do juízo estético que determinava a superioridade da população branca em detrimento das demais era surpreendente.
Em resposta à busca pela "perfeição não definida"17, mas associada ao padrão branco de beleza, é que muitas técnicas terapêuticas de modificações de caracteres presentes em pessoas não brancas têm sido desenvolvidas com o intuito de assemelhá-las aos padrões estéticos vigentes na sociedade ocidental: o padrão estético da população branca (branqueamento estético).
Os avanços da tecnologia e da pesquisa no ramo da cosmética, na atualidade, vêm permitindo o refinamento e a perpetuação do branqueamento estético. A odontologia passou, segundo Mandarino, a seguir caminhos que vão além de técnicas restauradoras, buscando restabelecer a função, a estética e o bem-estar do cliente, devolvendo-lhe a autoestima, o prazer em sorrir, ou seja, o prazer em viver.
A propósito da busca contemporânea pela renovação do ensino, reafirma-se a preocupação com os padrões de estética bucal/gengival que orientam a formação prática do cirurgião- dentista, tendo por suspeita que a realização do clareamento gengival - envolvendo uma postura etnocêntrica - se faz norteada pelo padrão branco de beleza. Neste sentido é que nos propomos a trabalhar os referenciais de beleza vigentes no ensino da periodontia no tocante ao clareamento gengival, assim como identificar as concepções de estética bucal do cirurgião-dentista subjacentes à prática do referido procedimento.
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia
Print version ISSN 0100-7203
Rev. Bras. Ginecol. Obstet. vol.27 no. 7 Rio de Janeiro July 2005
doi: 10.1590/S0100-72032005000700003

A condição periodontal materna e o nascimento de prematuro de baixo peso: estudo caso-controle

Maternal periodontal status and preterm low birth weight: a case-control study


Fernanda Ferreira LopesI; Liana Linhares LimaII; Maria Carmem de Albuquerque RodriguesII; Maria Carmen Fontoura Nogueira da CruzI; Ana Emília Figueiredo de OliveiraI; Cláudia Maria Coelho AlvesI
IDocente do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Maranhão - UFMA - São Luis (MA) - Brasil
IICirurgiã-Dentista da Universidade Federal do Maranhão


Os recém-nascidos prematuros e de baixo peso (PMBP) representam, aproximadamente, 10% de todos os nascimentos nos EUA, gerando custo anual que excede cinco bilhões de dólares. Embora os recém-nascidos PMBP sejam normais ao exame neurológico inicial, o espectro de deficiências neurológicas variam em diversos graus de anormalidades neuromotoras2, fazendo com que a prematuridade constitue problema perinatal mais sério em nossos dias, pois durante o período neonatal, os recém-nascidos PMBP apresentam taxa de morbidade 40 vezes mais elevada que os recém-nascidos a termo3.
É considerada gestação a termo aquela compreendida entre 37 semanas completas e menos de 42 semanas completas (259 a 293 dias completos), sendo os recém-nascidos de baixo peso aqueles que pesam menos de 2.500 g ao nascimento4. No entanto, as infecções maternas podem levar à presença de produtos bacterianos como lipopolissacarídeos ou endotoxinas provenientes de bactérias gram-negativas que estimulam a produção de citocinas, incluindo interleucina 1 (IL-1), fator de necrose tumoral (TNF) e interleucina 6 (IL-6), e aumentam a produção de prostaglandinas, levando assim ao parto prematuro1,5.
As doenças periodontais são essencialmente infeciosas, baseadas na presença de determinadas espécies bacterianas, principalmente gram-negativas anaeróbicas, semelhante ao processo infecioso materno5. O objetivo final da terapia periodontal é a remoção dos patógenos causadores da doença e que, concomitantemente, haja recolonização por microrganismos compatíveis com a saúde6, 7.
O papel da infecção periodontal como possível fator de risco para o PMBP parece envolver a translocação de produtos bacterianos, tais como lipopolissacarídeos (LPS) ou mediadores inflamatórios (IL-1, IL-6, TNF-a e PGE2), ao invés da passagem bacteriana, ou seja, translocação da bactéria por si só8.
A associação significativa entre a gravidade da doença periodontal e recém-nascidos de baixo peso sugere a possibilidade de que a doença periodontal na gravidez seja fator de risco para o nascimento de recém-nascidos com baixo peso9, 10, tendo sido detectado que a doença periodontal infecciosa parece ter relação direta com o nascimento de PMPB11. Todavia, alguns trabalhos mostraram não haver associação significativa entre a doença periodontal materna e o parto prematuro de recém-nascidos de baixo peso, ratificando que a doença periodontal materna não representa um fator de risco para o nascimento de PMBP12, 13. Assim, ainda existe a necessidade de mais estudos para esclarecer essa possível relação, como evidenciado pelos dados microbiológicos da placa bacteriana subgengival14.
Diante da importância de conhecermos os fatores de risco associados ao parto prematuro e em face das discussões científicas sobre a possível associação entre a infecção periodontal e o nascimento de prematuros com baixo peso, tornam-se imprescindíveis estudos abordando esses aspectos. Além do conflito de resultados apresentados na literatura e a sugestão de maior exploração do tema por trabalhos recentes14, 15, o presente trabalho teve por objetivo verificar as condições periodontais e necessidade de tratamento fornecidas pelo Registro Periodontal Simplificado (PSR) em puérperas de recém-nascidos de baixo peso, por meio de estudo clínico caso-controle, com o intuito de contribuir ao esclarecimento da relação entre doença periodontal e nascimento de recém-nascidos prematuros de baixo peso.

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