segunda-feira, 30 de maio de 2011

ficamento 2 e 3

Artrite crônica e periodontite
A artrite crônica e a periodontite apresentam similaridades em seus mecanismos patogênicos, o que tem despertado interesse na pesquisa sobre a associação entre essas condições (1). A artrite reumatoide (AR) pode funcionar como um modulador para a resposta imune no periodonto do hospedeiro, aumentando a suscetibilidade à doença periodontal destrutiva em adultos (2). Recentemente, nosso grupo de pesquisa observou que pacientes com artrite idiopática juvenil (AIJ) possuíam maior frequência de perda de inserção clínica periodontal na região Inter proximal, comparados a indivíduos saudáveis da mesma idade (3)
O periodonto é definido como o conjunto de tecidos que circundam os dentes. Subdivide-se em periodonto de inserção (ligamento periodontal, cemento radicular e osso alveolar) e periodonto de proteção (gengiva) . A principal função do periodonto é inserir o dente no tecido ósseo dos maxilares e manter a integridade da superfície da mucosa mastigatória da cavidade oral. O grau de destruição que o periodonto apresenta num dado momento é medido por meio de uma sonda graduada em milímetros (sonda periodontal). As principais condições inflamatórias que acometem o periodonto são gengivite e periodontite. A gengivite é uma inflamação apenas do periodonto de proteção e é clinicamente caracterizada por mudanças na coloração do tecido gengival (hiperemia) e presença de sangramento à sondagem e, normalmente, associa-se à presença de placa bacteriana no sulco gengival. Uma vez estabelecida à gengivite, se não houver interferência na formação continuada da placa bacteriana, pode desenvolver-se, em indivíduos suscetíveis, um quadro de periodontite.
Há estudos sugerindo que condições reumatologicas, como a AR e a AIJ, também possam ser modificadoras do processo saúde-doença periodontal, aumentando a suscetibilidade à doença periodontal destrutiva, tanto em adultos (2,6) como em crianças e adolescentes (3,7). Algumas hipóteses têm sido sugeridas para justificar uma possível associação entre a AR e a periodontite. Tais hipóteses serviriam também, com plausibilidade biológica, para uma inter-relação entre a AIJ e a periodontite, uma vez que, em todas essas condições, evidencia-se uma importante desregulação do sistema imune, possivelmente associada a ou influenciada por fatores genéticos e ambientais. A inter-relação entre a artrite crônica e a periodontite parece ter um caráter bidirecional.
Uma das teorias que tenta explicar como a periodontite seria uma condição de risco à AR baseia-se na exposição crônica ao lipopolissacarídeo que ocorre nas doenças periodontais. Segundo esse conceito, o lipopolissacarídeo de bactérias periodontopáticas serviria como uma fonte de superantígenos ao hospedeiro, podendo iniciar a cascata imunológica observada na AR(9). Por outro lado, a desregulação imunológica observada na AR, gerando o aumento de citocinas como a interleucina 1 (IL-1), o fator de necrose tumoral (TNF-) e a IL-6, local e sistemicamente, faria com que pacientes com artrite reumatóide, na presença de patógenos periodontais e um meio ambiente propício, desenvolvessem maior suscetibilidade à periodontite(6). Além disso, a hiperatividade neutrofílica tem sido evidenciada em certas doenças crônicas e parece justificar possíveis inter-relações entre algumas condições inflamatórias. Os neutrófilos são as células mais importantes nas articulações de pacientes com AR ativa e parecem desempenhar uma importante função na periodontite. Evidenciou-se hiperatividade de neutrófilos tanto na periodontite quanto na artrite. Desta forma, talvez uma doença possa funcionar como estímulo pré-ativador para neutrófilos periféricos, fazendo que essas células ajam de forma mais agressiva, quando recrutadas para atuar em outra doença (10-12).
AUTOR (ES)
Braga, Flávia Silva Farah Ferreira; Miranda, Letícia Algarves; Miceli, Vivian de Carvalho; Áreas, Alessandra; Figueredo, Carlos Marcelo Silva; Fischer, Ricardo Guimarães; Marques, Alessandra Fonseca Graça da Silva; Campos, Luciene Lima; Sztajnbok, Flavio Roberto
FONTE
Revista Brasileira de Reumatologia

Alterações periodontais associadas às doenças sistêmicas em crianças e adolescentes
AUTOR (ES)
Vieira, Thaís Ribeiral; Péret, Adriana de Castro A.; Péret Filho, Luciano Amédée
FONTE
Revista Paulista de Pediatria

As doenças periodontais consistem em processos inflamatórios de origem infecciosa que acometem os tecidos gengivais (gengivites) e/ou os tecidos de suporte dos dentes (periodontites) (1). Ocorrem como consequência das reações inflamatórias e imunológicas nos tecidos periodontais induzidas pelos micro-organismos do biofilme dental (placa bacteriana), danificando o tecido conjuntivo e o osso alveolar (2-3).
O biofilme bacteriano desempenha um papel importante no processo patogênico. Estratégias para evitar o seu acúmulo por meio de uma boa higiene oral e de raspagem e alisamento radicular devem ser empregadas. Enquanto as bactérias são essenciais para o desencadeamento da doença, a evolução e a extensão do dano periodontal também se relacionam com a suscetibilidade do hospedeiro (2).
O processo patogênico apresenta diferenças na extensão e gravidade no próprio indivíduo e entre indivíduos diferentes. As razões para isso são multifatoriais, podendo estar associadas a condições de risco, como alterações sistêmicas e aspectos comportamentais (2).
A periodontite apresenta alta prevalência em adultos. Em contrapartida, sua ocorrência é rara em crianças, mas não menos importante. Quando se manifesta na população infantil, a doença se desenvolve de forma mais agressiva, destrutiva e de rápida progressão, levando à perda de estruturas de suporte até à perda do elemento dental (1).
O desenvolvimento e a evolução da periodontite são dependentes da resposta imune do hospedeiro (4). Estudos sugerem que indivíduos com início precoce de doença periodontal podem ter doença sistêmica ou apresentar alterações no sistema imunológico (5-10). A hipofosfatasia (11-13), a histiocitose X(6,13-15), a síndrome de Down (7,16-20), a síndrome de Papillon-Lefèvre (6,11,13,2123), a síndrome de Ehlers-Danlos(3,6,11,13), a síndrome de ChédiakHigashi(6,13,24-25), doenças que levam à neutropenia(21,25-27) e disfunções de neutrófilos(6,13,21,25) como deficiência de moléculas de adesão e alterações de quimiotaxia, leucemia(28-31) e Aids(28,32-37) podem apresentar relação com o aparecimento de alterações periodontais graves em crianças e adolescentes
A ocorrência de alterações periodontais é observada com frequência em crianças e adolescentes com alterações sistêmicas (6-8,10-37). A literatura evidenciou que as alterações periodontais manifestam desde uma inflamação gengival até as formas mais destrutivas, como a periodontite agressiva, levando, em alguns casos, à esfoliação precoce de dentes. Esses achados são importantes para reforçar a necessidade de incorporar, no planejamento terapêutico desses pacientes, cuidados odontológicos que visem a prevenir e controlar a infecção periodontal, reduzindo assim perdas dentárias e infecções, o que pode contribuir para a manutenção da saúde sistêmica.

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